Anselmo Serrat, fundador do Circo Picolino, morre aos 71 anos

Anselmo Serrat, fundador do Circo Picolino, morre aos 71 anos

17 de março de 2020 0 Por Marcelo Garcia

Ele era um dos principais ativistas e mentores da arte e da cultura em Salvador e lutava contra um câncer há mais de um ano

Fonte: Correio 24h | Foto: Reprodução

Anselmo Serrat Circo Picolino

A Bahia perdeu, na tarde desta terça (17), um dos grandes nomes da produção cultural e artística do Brasil. O carioca e baiano de coração Anselmo Serrat, fundador e diretor do Circo Picolino, morreu, aos 71 anos, no Hospital São Rafael, em Salvador.

Desde 2018, Anselmo lutava contra um câncer e, no último mês, teve complicações por conta da doença. O corpo será velado no circo Picolino, em Pituaçu. e em seguida será cremado. Ainda não há informações sobre o horário e local. O artista deixa quatro filhos e quatro netos.

História
Anselmo Serrat nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 1948, e desde pequeno gostava das artes. Trabalhou no fim da década de 1960 como fotógrafo, chegou ao cinema como diretor de fotografia, teve a sua própria produtora, a Focus, e foi sócio da Lente Filmes.

Trabalhou no cinema nos filmes: O Rei da Vela, Ladrões de Cinema e Na Boca do Mundo. No início dos anos 1980, em São Paulo, encontrou no circo uma linguagem com a qual se identificou de forma plena. Frequentou a Academia Piolin de Circo e integrou o Grupo de Circoteatro Tapete Mágico que o trouxe para várias apresentações em Salvador. Assim, foi criando o desejo de dar continuidade ao trabalho, inclusive entre o público infantil.

Em 1985, Serrat criou a Escola Picolino de Artes do Circo em parceria com Verônica Tamaoki. O Picolino tem uma história de resistência desde sua criação. Ele surgiu dentro de outro circo, o extinto Troca de Segredos, e seguiu para um depósito na Biblioteca Central. Depois passou por um Bar Vagão e ocupou por sete anos o espaço onde hoje é o novo Centro de Convenções de Salvador.

Após muita luta para manter-se de pé, o Picolino fincou picadeiro em Pituaçu, onde está há mais de 20 anos. Agora, não há perigo de ser despejado, já que ganhou o direto de uso da terra, por usucapião. Atualmente, já existe uma geração de professores formados por ex-alunos do Picolino.

Um dos frutos dessa história é a filha dos dois, Luana Serrat, professora de tecido acrobático. Nome à frente da Cia. Luana Serrat e membro do Fulanas Cia. de Circo, Luana ganhou o Circo do Faustão, em 2008. Este ano, seu trabalho foi reconhecido pelo Prêmio Fundação Bunge, de São Paulo, na categoria juventude.

Em 2007, o Picolino recebeu da Presidência da República a Ordem do Mérito Cultural em reconhecimento ao conjunto do seu trabalho. Criada como uma escola de circo particular, a Escola Picolino também desenvolve até hoje trabalhos sociais voltados para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

Única escola de circo de Salvador, o Picolino também formou grandes artistas. Por lá passaram nomes como João Miguel, Pitty e Jailton Carneiro – que ganhou destaque no Cirque du Soleil. As duas filhas de Anselmo, Luana e Jana Serrat, trabalham até hoje com circo pelo Brasil afora.

Guerreiro
Anselmo ficou conhecido como ‘guerreiro’ porque lutava há anos contra o sucateamento do circo, que fica na orla de Pituaçu. Por isso, acabou também tornando-se símbolo da resistência da arte e da cultura em Salvador. “A maior dificuldade é a manutenção financeira, econômica. Como somos uma instituição privada, não recebemos recurso oficial nenhum, nem municipal, nem estadual, nem federal. Alguns projetos pontuais às vezes a gente consegue, como terminamos uma temporada com o projeto Guerreiro, que é um espetáculo da companhia que era patrocinado pela Petrobras. Então, a maior dificuldade é financeira e quando se tem a dificuldade financeira, se tem dificuldades de recursos humanos, de não ter como pagar, deveríamos estar com uma equipe de professores, mas nossa equipe é muito enxuta por conta do recurso ser quase nulo”, disse, em uma entrevista, em 2013.

Pelo conjunto da sua obra, Anselmo Serrat recebeu o título de Cidadão Baiano da Assembleia Legislativa da Bahia e a medalha de Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura.

Grande parte desse sucateamento ele atribuía ao fato do circo ainda ser visto como arte menor. “Pais e mães da classe média morrem de medo que seus filhos sigam o mundo do circo. Se ele for pintor ou cantor é maravilhoso, até jogador de futebol (nada contra), mas quando pensam em circo ficam apavorados”, afirmou, na época.