‘Com cara de Enem’: candidatos se surpreendem e professores avaliam tema da Redação

‘Com cara de Enem’: candidatos se surpreendem e professores avaliam tema da Redação

14 de novembro de 2022 0 Por Marcelo Garcia

Prova provocou os candidatos a falarem sobre desafios para valorização dos povos originários e comunidades

Fonte: Correio 24h* | Foto: Divulgação

O tema da Redação deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) provocou os candidatos a refletir sobre a importância dos povos originários e agradou os professores que trabalham com a preparação da prova. Muitos candidatos, contudo, se surpreenderam. Ao todo, mais de 258 mil baianos estavam inscritos para o exame no estado.

Léo Mendes, professor de Redação há mais 30 anos, conhece a prova de cabo a rabo, desde a forma com que os textos incentivadores são estruturados aos critérios avaliativos. Ao falar sobre o tema, ele afirma que segue um perfil já estabelecido pelo exame.

“Com cara de Enem, é um tema que segue a tradição de fazer a juventude pensar sobre questões das minorias políticas, historicamente usurpadas em seus direitos. […] Fundamental que os estudantes façam uma reflexão sobre a dignidade das comunidades e dos povos tradicionais”, diz.

Coordenadora de Redação do Poliedro, Fabiula Neubern corrobora com a fala de Léo Mendes. Segundo ela, o tema já estava no radar de educadores e estudantes há um tempo e, por isso, pode ter facilitado a vida de alguns candidatos.

“É um tema que era cotado já há alguns anos. Uma desvantagem seria não conhecer as legislações ou não conhecer quais são os principais conflitos”, afirma.

Bom para desenvolver
Professora de Redação do Colégio Bernoulli, Mônica Melo também afirma que o tema era esperado e foi pautado em suas aulas ao longo do ano. Pontua também que a temática deu variadas opções de construção argumentativa por conta da invisibilidade e silenciamento dos povos tradicionais e comunidades.

“O aluno podia fazer várias críticas aos direitos que a Constituição brasileira garante a esses povos e a forma como essa Constituição é desconsiderada na prática. Poderia fazer uma comparação histórica sobre a herança que nós temos em relação às tradições e mostrar como essas tradições são esquecidas, silenciadas e invisibilizadas no momento presente”, indica.

O professor Vinícius Zacarias acrescenta ainda que a temática abordada na prova veio a calhar. Isso porque, além de se debruçar em questões sociais, foco tradicional da prova, está dentro de um contexto em que os direitos destes grupos estão em pautas.

“O tema foi pertinente e compõe a pauta nacional, já que ainda está em tramitação no judiciário o marco temporal para demarcação de terras indígenas que implica diretamente nos interesses dos setores do agronegócio e a consolidação de direitos constitucionais”, fala.

Pegos de surpresa
Apesar dos professores afirmarem que o tema não surpreendeu, estudantes ouvidos pela reportagem disseram justamente o contrário. Andrey Patrick Barroso, 17 anos, quer cursar administração e não economizou ao descrever o problema que teve com o tema, já que não dominava o assunto.

“Rapaz, foi horrível. Não esperava esse tema, não. Achei que ia ser fake news, alguma coisa da covid ou então um tema ligado à economia. Me pegou desprevenido. Acho que, no máximo, tiro uns 700 aí. Mais do que isso, tá difícil. Eu penei para conseguir fazer”, relata ele.

A candidata Aline Pereira Bastos, 23, não cogitou este tema em nenhum momento. Ela é outra que mostrou pouca expectativa e frustração com o desempenho na Redação. “Me surpreendeu, caiu algo que nem passava pela minha cabeça. Tanto é que me bati para fazer e não sei nem quanto vou tirar. Eu não me aprofundei sobre esse assunto, fiz o que pude e tô com zero expectativa sobre o resultado”, afirma ela, que quer fazer Estética.

Vitor Hugo Silva, 17, quer cursar Engenharia Mecatrônica e também ficou desanimado com o tema: “Passou batido por mim. Eu não sei falar sobre esse tema, mas acho que é importante e tem uma característica da prova mesmo. Porém, eu fui mal e vou tirar, no máximo, 400 pontos porque sou péssimo em Redação”, lamenta. A pontuação da prova pode variar entre 0 e 1000.