Professores de artes e educação física são retirados de aulas na rede municipal de ensino em Salvador

Professores de artes e educação física são retirados de aulas na rede municipal de ensino em Salvador

1 de fevereiro de 2022 0 Por Marcelo Garcia

Secretaria de Educação diz que com pedagogos as crianças terão mais interação; categoria diz que falta de especialistas atrapalha desenvolvimento

Fonte: G1 Bahia | Foto: Secom PMS

Professores da rede municipal de Salvador realizam manifestação em frente à  Secretaria da Educação | Bahia | G1

A Prefeitura de Salvador anunciou a retirada dos professores especialistas das disciplinas de Educação Física e Artes das turmas de 1° e 2° ano do ensino fundamental. A medida é criticada pela categoria, que aponta prejuízos na alfabetização das crianças, com idades entre 6 e 7 anos.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação (Smed), essas disciplinas serão ensinadas por pedagogos, “para liberar os especialistas para atender às necessidades de alunos de turmas seguintes”.

Publicidade

A representante do Coletivo de Coordenadoras e Coordenadores Pedagógicos da Rede Municipal de Salvador, Denise Souza, avalia que os estudantes mais novos terão prejuízos na formação, com essa transferência de aprendizado.

“No processo de alfabetização, a criança se apropria da leitura, da palavra, mas também do mundo. A criança não nasce sabendo, por exemplo, que se escreve da direita para a esquerda. Ela aprende, e isso se desenvolve no campo da orientação. O conteúdo da educação física é, na sua essência, um trabalho de consciência do corpo, de grande contribuição no processo de alfabetização”.

“A educação física, as artes visuais, o teatro, são áreas que fomentam o processo de cooperatividade, que fortalecem a capacidade das crianças de se expor e se apresentar, potencializam a autonomia. Tudo isso é potente para a criança que está aprendendo a ler e escrever. Retirar essas áreas é tirar o a velocidade nos avanços dessas crianças”.

O G1 questionou à Smed sobre os prejuízos da retirada para as crianças. Em nota, a secretaria respondeu apenas que a mudança beneficiará os estudantes, que terão dois pedagogos com uma carga maior, o que traz “maior facilidade de interação e integração com esses alunos”.

Publicidade

Denise Souza também chama a atenção para o fato de que a mudança acontece em um período de retomada das aulas ainda em pandemia, quando os alunos passaram cerca de dois anos sem o apoio presencial dos profissionais especializados.

“Não há preocupação com trajetória de aprendizado dos estudantes, com tudo o que foi retirado deles na pandemia, agora temos a retirada desses campos de aprendizagem. Existe uma diretriz da rede municipal, um referencial curricular que foi construído por especialistas de vários seguimentos”.

“Retirar esses profissionais, e deslocar tarefa deslocar para quem não é especialista, é transferir o aprendizado das crianças como se fosse qualquer coisa”.

A Smed destacou ainda que a readequação foi pensada para otimizar os recursos humanos que “geram eficiência e valorizam os profissionais da educação, sem trazer qualquer prejuízo para os alunos ou professores”.

A categoria também reclamou de não ter havido um diálogo para a mudança. Além disso, os professores alegam que só ficaram sabendo da readequação com a medida já em implementação.

“Não fomos informados. As ações da prefeitura têm sido de surpresa. São comunicadas rapidamente em reuniões com gestores, que não têm concordado com elas. Há uma definição autocrática e sem ouvir os professores”.

Faculdade de Educação da Ufba se manifesta
A Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Ufba) se manifestou sobre o assunto. A universidade avaliou que o secretário municipal da Educação, Marcelo Oliveira, e sua equipe “cometem um erro sem precedentes tanto em termos curriculares como formacionais”. O g1 questionou se a Smed tem um posicionamento sobre a nota da Ufba, mas não teve resposta com relação ao assunto.

A UFBA também afirmou que os professores especialistas são uma formação profunda, interdisciplinar, multirreferencializada e crítica para as crianças, e que currículos não se devem mudar para ajustar esse tipo de componente, porque interfere na qualidade do aprendizado.

Covid-19: Uso de máscara é parte...