Bocadorriense, Professor Chokito, será homenageado pela Câmara de Salvador na próxima sexta-feira (17)
14 de novembro de 2023Educador físico Carlos Felipe Albuquerque receberá a medalha Thomé de Souza pelos serviços prestados ao esporte em Salvador
Fonte: Redação (Boca do Rio Magazine) | Foto: Diny Sports

Pessoas oriundas de comunidades periféricas podem, sim, ter sucesso profissional e transformar sonhos antes apenas imagináveis em realidades. Carlos Filipe Albuquerque, de 37 anos, ou simplesmente ‘Chokito’, é prova viva deste fato. Nascido e criado na Boca do Rio, o ex-atleta de natação e atletismo, educador físico e CEO do Runners Clube – assessoria esportiva -, foi criado com uma rotina pautada em pilares da disciplina, foco e treinamento.
Na infância, ele virou nadador profissional e chegou a se tornar tri campeão Norte/Nordeste, mas uma grave lesão no ombro o obrigou a abandonar as piscinas. No entanto, a capoeira lhe trouxe a resiliência necessária para seguir praticando outras modalidades esportivas e fez nascer o desejo de trabalhar com alguma coisa que remetesse ao esporte.
Após encerrar o ensino médio, aos 17 anos, ele buscou entrar em uma faculdade e escolheu Educação Física para cursar. A partir daí, percebeu que teria barreiras para quebrar que iriam muito além da origem social.
“Na época [2003] a faculdade era de gente branca e eu negro, periférico, com 17 anos, adentrando naquele ambiente, foi realmente impactante. Eu lembro o quanto foi difícil, mas eu não queria ser mais um ali no meio, então busquei me destacar”, disse ele em entrevista ao Preta Bahia.

Com um espírito de liderança e persuasão nato, ele ouviu na sala de aula um ensinamento e fez das palavras do pensador sociológico Max Weber uma lição de vida. “Existe a teoria do intelectual urbano, que são indivíduos que saem de ambientes socioeconômicas restritos, conseguem fazer a ruptura de sair para um estado melhor e voltar resgatando pessoas para que cheguem melhor ou no seu mesmo nível, é uma teoria de Max Weber”.
Essa mola fez com que Chokito tivesse não só a gana de terminar a graduação, como de se tornar professor universitário e formar futuros educadores físicos. Ainda na faculdade, Carlos conheceu a assessoria de corrida de rua através de um estágio, onde ele iniciou a trajetória distribuindo água para os atletas. Inserido neste meio, ele teve um insight necessário para montar uma filial daquela empresa e posteriormente seu próprio clube.
“Em um desses [estágios] eu conheci o clube de corrida, nesse lugar eu era entregador de água, mas não era simplesmente entregar uma água, a gente levava feedbacks para o treinador e ele intervia de forma significativa. Ainda estudante eu montei uma unidade dessa assessoria em outro bairro, no Imbuí. Ou seja, cedo eu já consegui ganhar dinheiro com a minha área de atuação”.
A investida de Chokito deu tão certo que, em pouco tempo, a filial que havia montado com o sócio conseguiu dobrar o número de alunos da matriz.
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‘A Runners é o mundo’
Em junho de 2008, a primeira empresa de Carlos nasceu: a Runners, que ficou ativa até 2013. Logo em seguida diversas sociedades apareceram. Depois da flexibilização da pandemia, em 2020, ele reativou o seu projeto pessoal com uma nova identidade, a Runners Club, que fatura atualmente R$ 50 mil mensais.
O educador físico começou o negócio investindo apenas R$ 4 mil arrecadados das vendas de camisas e de inscrições de fiéis alunos. O projeto expandiu e hoje ele conta com uma equipe com sete profissionais, todos negros.
“Eu não poderia fazer diferente, todos os meus prestadores de serviço são de preferência negros, periféricos, com a mesma base de origem que eu tive. É dar acesso a quem precisa ter acesso”
“Eu fui aprendendo com a vida, entre erros e acertos, buscando ajuda com um e outro, na pandemia eu tive que buscar virada de chave, e a minha parceira [Elizabete Caroline, esposa do profissional] foi o meu porto seguro. Ela dizia ‘pode ir, estou aqui com você’. Em 2020 eu reativei o ‘Runners Club’, estudei muito, ampliei o que eu não conhecia, melhorei o que eu já sabia e deu certo”.

O clube de corrida fundado por Carlos tem alunos não só em Salvador, interior da Bahia ou espalhados pelo Brasil, mas em diferentes países do mundo como Estados Unidos, Dubai, Austrália, Turquia entre outros. O negócio de Chokito oferece serviço personalizado, treinamentos semanais (presencias e online), além de todo o suporte que o aluno precisar. Na capital, a assessoria tem turmas no Jardim de Alah e na Praça dos Eucaliptos, na Pituba.
Chokito ainda aproveitou a oportunidade para impulsionar com palavras novos profissionais da educação física e reforçou que estudar é a principal chave do sucesso para se construir uma grande carreira.
“Independente da sua cor, do bairro que você veio, dos nãos, opressões até dentro de casa, eu sei que é difícil, bote seu propósito na frente, seja sonhador e tenha atitude. Se posicionar custa caro, mas ser aquilo que você é, é sempre melhor. Acredite em você, se rodei de pessoas que lhe tragam valores, que te deem sim e não, pessoas com cultura, com conhecimento e estude. Estude muito, buscando melhorar cada vez mais. Se movimentem em todos os aspectos”.

Homenagem
Carlos Felipe Albuquerque receberá na próxima sexta-feira, dia 17, a medalha Thomé de Souza pelos serviços prestados ao esporte na capital baiana. A homenagem, que é de iniciativa do presidente da Câmara, Carlos Muniz, acontecerá a partir das 18h30, no Plenário da Câmara dos Vereadores da Cidade do Salvador.
“Mais do que uma satisfação, é uma honra receber essa medalha. Sou ex-atleta de natação, motivo pelo qual fui estudar Educação Física e foi nessa fase da minha vida que me apaixonei pela corrida de rua, decidi mergulhar nessa área. São anos de dedicação, de muito trabalho, com a consciência de que estou no caminho certo, mas com muito a fazer no presente e no futuro”, comenta o homenageado.



