‘Lixo aéreo’: fios e cabos soltos nos postes podem servir de ‘combustível’ em incêndios; saiba mais

‘Lixo aéreo’: fios e cabos soltos nos postes podem servir de ‘combustível’ em incêndios; saiba mais

9 de junho de 2022 0 Por Rebeca Almeida

Situação que aconteceu no bairro do Uruguai nesta quinta-feira (9) emite alerta para os postes da Boca do Rio, que como em outros locais, muitas vezes ficam sobrecarregados de material não utilizado.

Fonte: Redação | Foto: Arquivo pessoal | atualizado em 13/06/2022

Dois postes pegaram fogo na Rua Direta do Uruguai, no bairro de mesmo nome, nesta quinta-feira (9). De acordo com a Coelba a situação foi provocada por fios irregulares. Essa situação não é novidade, na verdade é recorrente em muitos bairros de Salvador. Entenda melhor o que acontece e que podemos fazer para melhorar.

“Os incêndios em postes da rede elétrica, na maioria das vezes, são causados principalmente por cabos telefônicos, que mesmo desativado por portabilidade de clientes ou outros motivos , ainda estão energizados com uma tensão contínua de -48 volts (diferente da rede elétrica, cuja tensão é alternada de 110 / 220 volts na rede domiciliar)“, é o que explica o professor e engenheiro especialista em telecomunicações, Luciano Silva, morador da Boca do Rio. 

“Isso não significa dizer que os cabos da rede elétrica não possam também serem causadores de incêndios, bastando para isso, haver um curto-circuito, tanto na cabeação telefônica, quanto nos condutores de energia elétrica”, completa.

Luciano Silva

Ele também destaca que os postes são propriedade da Coelba, mas que operadoras de telefonia e internet pagam uma tarifa, como se fosse um aluguel, na utilização desses postes com sua cabeação própria. O problema começa porque não há uma fiscalização efetiva para averiguar se todos os fios e cabos que estão em um poste estão sendo de fato utilizados ou se são apenas resquícios de linhas que já foram desativadas.

“É o que podemos chamar de ‘lixo-aéreo’, porque, na verdade, é apenas fiação inútil que pode servir de “combustível” em caso de um eventual curto-circuito”, diz Luciano.

Para Wilson Brito, proprietário da NossaRede Internet, provedor local de internet na Boca do Rio, o problema é que “não há interesse por parte, principalmente das grandes operadoras, em retirar sua fiação de tecnologia já inoperante e inútil dos postes”.

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“É muito mais fácil apenas cortar o fio e interromper a ligação do que fazer a retirada de todo o material, por isso, a maioria das empresas não se importa de retirar”, destaca.

Ele ainda detalha mais: “Quando a Coelba envia uma empresa terceirizada para limpeza de postes, esta faz uma “maquiagem”, ou seja, limpa apenas o poste e não retira os cabos inativos entre um poste e outro, o que é tão importante quanto”, diz.

Fios inoperantes retirados após limpeza realizada pela Nossa Rede Internet na Rua Geraldo Suerdick

Responsabilidade
Com o que aconteceu no bairro do Uruguai, a Coelba divulgou que tem feito a limpeza dos postes da cidade, e que somente este ano cerca de 50t de material inútil ou fios instalados de forma irregular foram retirados em toda cidade. 

Além disso, por meio de nota enviada ao BDRM, a Coelba destacou que “a responsabilidade pela manutenção dos fios de telefonia e internet é das operadoras”. Também destacou que possui um calendário contínuo de fiscalizações dos seus postes. “A iniciativa tem como principal objetivo identificar e remover os cabos das empresas de telecomunicações que não estão seguindo os padrões técnicos de segurança, oferecendo risco à população e ao fornecimento de energia da localidade”. Detalhou ainda que comunica as empresas previamente ao atuar na limpeza e que cabos de irregulares são retirados. [leia nota completa abaixo]:

“Esse problema de sobrecarga nos postes acontece mais em bairros periféricos, onde a cabeação telefônica é predominantemente aérea, diferente dos bairros de classe média ou alta, onde já existe uma cabeação telefônica muitas das vezes subterrânea”, destaca Luciano.

Para o engenheiro a solução seria que toda a cabeção elétrica da cidade fosse subterrânea. “Mas este é um investimento caro. Jamais as operadoras de telefonia e a concessionaria de energia elétrica arcariam com esse custo”.

Comparação: postes ‘sujos’ x postes ‘limpos’, após a atuação da Nossa Rede Internet

Poluição visual 
O engenheiro destaca ainda que além da iminente possibilidade de focos de incêndio, há o fator estético. “Essa quantidade enorme de ‘lixo-aéreo’ provoca um efeito claro de poluição visual, desvalorizando as ruas do bairro”. 

Para Wilson o maior problema “é a falta de consciência das operadoras e provedores, que deveriam se responsabilizar pela retirada do material obsoleto”. Mas como não há meios efetivos para que elas assumam essa responsabilidade de cumprir as normas técnicas, a situação vai se estendendo.

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“Acredito que os consumidores podem atuar neste caso cobrando sempre a efetiva limpeza dos postes e que as operadoras de fato se responsabilizem pelos seus materiais deixados”, destaca.

O Boca do Rio Magazine questionou a Coelba sobre a situação apresentada, mas até o fechamento desta reportagem não recebemos resposta.

Wilson Brito

Projeto do bairro
Wilson conta que em meio ao imbróglio da responsabilidade pela limpeza de postes, decidiu pôr a mão na massa. “A NossaRede Internet tem atuado semanalmente na limpeza de postes no bairro, mesmo em trechos em que não fornecemos o serviço”.

“Isso é positivo para os provedores de internet, pois os postes ficam mais seguros, para o bairro, que fica livre de possíveis incêndios, e para os moradores, que vão habitar num local menos poluído visualmente”, explica.

É um trabalho de formiga, tendo em vista a dimensão do bairro e a quantidade de postes. “Mas essa é a nossa forma de colaborar com a comunidade”, finaliza.

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