Douglas de Almeida: poeta das ruas e morador da Boca do Rio; conheça

Douglas de Almeida: poeta das ruas e morador da Boca do Rio; conheça

24 de julho de 2022 1 Por Rebeca Almeida

Nesta segunda-feira (25) se comemora o dia do escritor. O artista, que mora no bairro, é coordenador da biblioteca Betty Coelho, que fica na Rua Lavínia Magalhães.

Fonte: Redação | Fotos: Redação

Douglas de Almeida, poeta do bairro com carreira internacional

Antes de escrever, Douglas de Almeida foi leitor. Nascido em 1955, se apaixonou por literatura na infância. Começou lendo prosa e descobriu a poesia mais tarde, já adulto, quando se apaixonou pelo gênero e começou a criar seus próprios textos. Publicou pela primeira vez em 1980, na revista Repúbrica das Banana.

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“Conheci tardiamente a poesia, mas quando conheci me apaixonei. Primeiro com Carlos Drummond de Andrade, depois vieram outros. Em 1979 comecei a escrever e logo depois a publicar. Com o tempo passei a me dedicar somente a poemas, sou um escritor de poemas, por mais que escreva outros gêneros em alguns momentos”.

Juntamente com a escrita de poemas vieram os recitais de poesia. Douglas conta que o ato de recitar veio naturalmente, como uma atividade que passou a fazer por prazer, tendo que vista que o fazer poemas é brincar com as palavras, ritmos, rimas e música.

Livro de poemas do escritor Douglas de Almeida

“Recitar poemas é algo que existe em diversas civilizações, e lá no começo a poesia começou falada. Então a poesia tem muito haver com a palavra ‘falada’. E em Salvador existe uma tradição de declamar, passando por Gregório de Matos, Castro Alves, literatura de cordel… então é algo muito normal que se faça isso”, diz.

Poesia de Rua

Também foi a poesia que o levou para as ruas, como forma de compartilhar sua arte com um público diverso.

Juntamente com outros poetas baianos, organizou o Festival Poesia Rua, do Movimento Poetas na Praça, em 1983. Mais tarde organizou um livro homônimo, onde reúne a trajetória do movimento que aconteu em todo Brasil, com manifestações contra a Ditatura Militar.

“Eu não lembro qual foi exatamente o primeiro poema que declamei em praça pública, mas certamente um dos primeiros foi ‘Liberdade’, conta.

Liberdade

A mim, perguntaram
O que era liberdade
e eu pude responder

Liberdade é viver
é crescer por poder nascer
é a morte ter que esperar
sem ter mais o que temer

A mim, perguntaram
O que era Liberdade
e eu pude responder

Liberdade é transcender
é ter opção e não escolher
é sorrir sem precisar mentir
é ter por poder querer

Então me perguntaram
Aonde existe esta Liberdade
E eu também pude responder
– Nas páginas de um dicionário

Intercâmbio cultural

Douglas tem carreira internacional, esteve em outros países, onde conheceu vários outros poetas. Em 1990 organizou em Buenos Aires Argentina, a mostra La nueva generación de la poesía brasileña (recital de poemas e exposição de livros). Mas para ele esse intercâmbio vem naturalmente, uma vez que é natural para o artista buscar contato com outros artistas, de diferentes lugares.

“Qualquer artista quando começa, não está pensando nisso: em viagens, aparecer em matérias de jornal, fama… Na verdade é uma questão existencial. A Arte e a Cultura são necessidades do ser humano. Então qualquer artista começa a fazer arte por prazer, com o tempo é que isso vai mudando…”, explica.

Douglas conta que quando começou a escrever livros e poemas, na década de 80, os artistas trocavam cartas e enviavam livros uns para os outros. E muitas vezes, quando a troca de cartas se tornava mais frequente, era comum um artista ir visitar o outro. Foi assim que o escritor em Salvador conheceu várias cidades brasileiras e também outros países da América do Sul.

“Foi ao levar a minha poesia para as ruas que a música tomou conta dela. É muito importante que qualquer trabalho de arte seja desenvolvido nas ruas, para atingir pessoas que podem nunca ter tido contato com a arte. Então ao recitar na rua a gente acaba entrando, sem querer, em um trabalho de educação, pedagógico e até um trabalho social. Mesmo que no inicio você não tenha pensado nisso”, finaliza.

Bibliotecas

Por acreditar na importância de levar livros até as pessoas, em 1994 Douglas criou a Biblioteca Prometeu Itinerante, especializada em literatura baiana contemporânea.

Já em 2005, juntamente com a atriz Jeane Sanches e o compositor Sidney Rocha, fundaram a biblioteca infanto-juvenil Betty Coelho, que enfatiza a oralidade e a contação de histórias. Ambas ficam no mesmo espaço, na Rua Lavínia Magalhães, na Boca do Rio.